sexta-feira, 24 de julho de 2009

Rio São Francisco sofre impacto ambiental com produção de carvão

O desmatamento para produção de carvão ainda afeta gravemente a região da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, aponta estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O carvão vegetal abastece principalmente a indústria siderúrgica de Belo Horizonte. Apesar da expansão de centros médios verificada de 2000 a 2007, o IBGE destaca a manutenção da carência de saneamento básico na região.

O estudo foi encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente, que pretende concluir até 2010 o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da bacia. A região - formada por 506 municípios de Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba e Distrito Federal - representa 7,5% do território nacional e abrange 9,6% da população.

São de Minas Gerais os cinco municípios de maior produção de carvão: Buritizeiro (34.686 toneladas em 2007), João Pinheiro (31.900 t), Pompéu (18.421 t), Felixlândia (17.826 t) e Corinto (16.201 t). Em toda a região, foram extraídas 349 mil toneladas no período, 13,8% da produção nacional. Os dados de extração vegetal são referentes a madeira nativa, portanto não incluem os de silvicultura (florestas plantadas). Neste caso, a produção na bacia atingiu 1.725.740 de toneladas em 2007 (45% do total no País). De novo, municípios mineiros aparecem como os maiores produtores: Lassance (336.868 toneladas), Buritizeiro (261.868 t), Curvelo (189.570 t), Três Marias (125.873 t) e João Pinheiro (125.441 t). O levantamento inclui apenas extrações autorizadas.

Além de Minas, os pesquisadores destacam as regiões de Xique-Xique (BA) e da Chapada do Araripe, na divisa entre Ceará, Piauí e Pernambuco. "O problema aqui é a lenha usada na produção de gesso. Estão acabando com a caatinga", diz o engenheiro florestal Iêdo Bezerra Sá, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Semiárido, em Petrolina (PE), que colaborou com o estudo do IBGE. O responsável pelo ZEE da região, Luis Mauro Ferreira, da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério, reconhece que o uso da lenha "é amplo".

"O problema não ocorre só no norte de Minas, para consumo em siderúrgicas e olarias. No resto da bacia, é a única fonte de energia", diz. "O problema é amplo. Temos feito um trabalho de recuperação de áreas degradadas e de mudança da matriz energética. O mais difícil é fazer chegar a informação para a população local". O estudo aponta que apenas 7 dos 506 municípios têm alguma representação do Ibama.

Sobre a questão do saneamento, Ferreira diz que foi traçado "horizonte de 20 anos" para que toda a bacia seja alcançada no Programa de Revitalização. "A área é muito grande. Estamos caminhando para a solução a até 15 quilômetros da calha principal, e o objetivo é resolver o problema de esgotamento sanitário, principal contribuinte da poluição". A situação afeta tanto municípios mais desenvolvidos como aqueles estagnados economicamente - Brasília, Belo Horizonte, Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) são exceções.

O IBGE destaca ainda o avanço da fruticultura (Juazeiro foi o maior produtor de manga do País, com 58% de participação) e da produção de grãos e de algodão. "O Brasil tem grande espaço para ocupar no mercado internacional e o semiárido tem muito a contribuir. É possível compatibilizar esse aproveitamento econômico para diminuir bolsões de miséria que sobrevivem", avalia a geógrafa Adma Figueiredo, que coordenou o trabalho do IBGE.

Sobre o eventual impacto da transposição do São Francisco, ela declara: "Pode contribuir tanto para diminuir como para aumentar as desigualdades. Vai depender do rumo que se dará." Na região, 78% da água é usada para irrigação. Adma diz que a articulação da sociedade está crescendo. "Chama a atenção o fortalecimento da sociedade civil em busca de uma virada no interior do Nordeste, que era a terra do coronelismo, dos potentados rurais".(AE)

fonte:cruzeiro online


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