segunda-feira, 21 de setembro de 2009

TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO


Fonte: César Nunes de Castro, BOLETIM REGIONAL, URBANO E AMBIENTAL (IPEA) - Número 02 - Julho / 2009

Parte considerável da região Nordeste brasileira convive historicamente com o problema da seca. Especificamente a região conhecida como semiárido, que abrange a maior parte do sertão e do agreste nordestinos, se encontra nessa situação. Traduzindo em números o tamanho do semiárido, essa região abrange 57% da área total do Nordeste e, aproximadamente, 40% da população. No semiárido, a precipitação média anual é inferior a 800 mm.

Essa convivência forçada foi e é uma das maiores preocupações da população do semiárido nordestino, grande parte vivendo da agricultura e da pecuária em pequenas propriedades familiares, que, por causa dos baixos índices pluviométricos em muitos anos não consegue produzir alimentos sequer para garantir a segurança alimentar de suas famílias.

Nos três últimos séculos, registros acerca dos eventos climáticos ocorridos na região se tornaram mais confiáveis e, nesse período, houve por volta de 85 anos de chuvas escassas, inexistentes ou mal-distribuídas no semiárido nordestino (Gomes, 2001).

À escassez ou má distribuição das chuvas, soma-se o fato de aproximadamente 10 milhões de pessoas viverem nos dias de hoje no semiárido nordestino da agricultura e da pecuária tradicionais, atividades muito vulneráveis às secas tão frequentes nessa região.

Por causa dessa adversidade climática enfrentada pela população do semiárido, essa região foi alvo da atenção governamental ao longo da história brasileira desde a independência, cuja intenção sempre gravitou em torno da missão de melhorar a vida do homem sertanejo na sua difícil lide com as vicissitudes climáticas.

Ao longo do século XX órgãos foram criados para lidar com a questão da seca, programas foram elaborados e obras foram executadas. Entretanto, regra geral, os resultados foram aquém do esperado e a vida pouco mudou no semiárido.

A situação resultante da combinação entre a incapacidade do poder público de alterar substancialmente a situação do semiárido e interesses clientelistas de determinados grupos que se beneficiavam dos programas e obras promovidas pelo governo para minorar os efeitos da seca sobre o semiárido foi bem descrita por Celso Furtado e batizada por ele de
indústria da seca.

Em tempos recentes novos programas têm sido elaborados
o programa Cisternas por exemplo e ideias antigas resgatadas com a promessa de contribuir para a melhorar a vida no semiárido.

Com relação a ideias antigas, uma das mais conhecidas e que está sendo executada atualmente é a da transposição do Rio São Francisco. O caminho para se chegar ao atual projeto, cujo nome oficial é
Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, foi longo e tortuoso, com o projeto de transposição sendo proposto, abandonado, reformulado e proposto novamente em contextos diferentes e com, às vezes, grande intervalo de tempo entre uma proposta e outra.

A primeira vez que a transposição do São Francisco foi aventada (algum tempo antes, D. João VI havia mandado estudar a possibilidade da transposição, mas não há registro de proposta efetiva de realização do projeto) ocorreu em 1847, quando o engenheiro cearense Marcos de Macedo, deputado pelo estado de Ceará, apresentou ao Imperador Dom Pedro II a ideia de transpor as águas do Rio São Francisco para amenizar os problemas gerados pela seca nordestina. Nada foi realizado.

No decorrer do Segundo Reinado (1840-1889), a ideia da transposição seria novamente debatida em 1856, quando uma comissão científica chefiada pelo Barão de Capanema encarregada de estudar o problema da seca recomendou a abertura de um canal ligando o Rio São Francisco ao Rio Jaguaribe (esse estudo foi concluído em 1859 e após a conclusão foi arquivado), e em 1886, quando outro engenheiro cearense (Tristão Franklin Alencar) reativou a ideia, a qual foi logo abandonada.

A partir de 1889, já no período republicano, o projeto de transposição seria relembrado por diversas vezes. Em 1909, técnicos da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS) elaboraram um esquema do canal que interligaria os rios São Francisco e Jaguaribe. Em 1919, esse projeto seria reconsiderado pela Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS). Em ambos os casos, o projeto foi logo arquivado.

No governo Getúlio Vargas, com a criação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), a transposição voltaria a ser estudada. Após isso, o projeto de transposição reapareceria em 1981, quando técnicos do próprio DNOCS elaboraram um novo projeto de transposição que teve o mesmo destino dos projetos anteriores: arquivado.

Em 1993 (governo Itamar Franco), o Ministro da Integração Nacional, Aluísio Alves, propôs a construção de um canal em Cabrobó (Pernambuco) com o objetivo de retirar até 150 m3/s de água do Rio São Francisco para beneficiar os estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. Em 1994, foi anunciada a intenção de dar início à execução desse projeto, mas um parecer do Tribunal de Contas da União contrário à ideia resultou mais uma vez no arquivamento do projeto.

A partir de 1995, no decorrer dos dois mandatos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso, novas versões do projeto foram apresentadas, entre elas uma da equipe da Secretaria Especial de Políticas Regionais, uma nova versão do Ministério da Integração Nacional e outra da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF). Por motivos diferentes, nenhum desses projetos foi levado adiante.

Chega-se então à fase atual em que se encontra à ideia de transposição de parte das águas do Rio São Francisco como solução para amenizar os efeitos da seca sobre parte do semiárido nordestino.

Logo no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2006, a ideia da transposição re-emerge e o presidente Lula incumbe o então ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, a executar a obra.

Apesar da grande polêmica gerada pelo projeto de transposição, o que resultou, inclusive, na propositura de um elevado número de ações no Poder Judiciário contra a execução do projeto, o Batalhão de Construção e Engenharia do Exército Brasileiro iniciou, em 2007, a execução da parte das obras sob responsabilidade militar.

O projeto de transposição sendo executado atualmente é um empreendimento do governo federal, sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional (MI), destinado a, de acordo com o MI, assegurar a oferta de água, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de pequenas, médias e grandes cidades da região semi-árida dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O nome oficial do projeto, conforme mencionado anteriormente, é
Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, e desse ponto em diante será feita referência a ele como projeto de transposição, como é conhecido.

A justificativa apresentada pelo MI para a necessidade de realização do projeto resume-se em fatos motivadores principais:

1- A região Nordeste, que possui apenas 3% da disponibilidade de água e 28% da população brasileiras, apresenta internamente uma grande irregularidade na distribuição dos seus recursos hídricos, uma vez que o Rio São Francisco representa 70% de toda a oferta regional;

2- A discrepância nas densidades demográficas no semiárido nordestino (cerca de 10 hab/km² na maior parte da bacia do Rio São Francisco e aproximadamente 50 hab/km² no Nordeste Setentrional) faz com que, do ponto de vista da sua oferta hídrica, o semiárido brasileiro seja dividido em dois: o semiárido da Bacia do São Francisco, com 2.000 a 10.000 m³/hab/ano de água disponível em rio permanente, e o semiárido do Nordeste Setentrional, compreendendo parte do estado de Pernambuco e os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, com pouco mais de 400m³/hab/ano disponibilizados através de açudes construídos em rios intermitentes e em aquíferos com limitações quanto à qualidade e/ou quanto à quantidade de suas águas.

Dessa forma, devido a esses dois fatos, o projeto de transposição estabelece a interligação da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, que apresenta relativa abundância de água (1850 m³/s de vazão garantida pelo reservatório de Sobradinho), com bacias inseridas no Nordeste Setentrional com quantidades de água disponível que estabelecem limitações ao desenvolvimento socioeconômico da região.

De acordo com o projeto apresentado pelo MI, a integração do Rio São Francisco às bacias dos rios temporários do semiárido será possível com a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o equivalente a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s) no trecho do rio onde se dará a captação. Este montante hídrico será destinado ao consumo da população urbana de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatro estados do Nordeste Setentrional. Nos anos em que o reservatório de Sobradinho estiver vertendo, o volume captado poderá ser ampliado para até 127 m³/s, contribuindo para o aumento da garantia da oferta de água para múltiplos usos.

O projeto de transposição prevê a construção de dois canais: o Eixo Norte, que levará água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, e o Eixo Leste, que beneficiará parte do sertão e as regiões agreste de Pernambuco e da Paraíba.

O Eixo Norte, a partir da captação no Rio São Francisco próximo à cidade de Cabrobó
PE, percorrerá cerca de 400 km, conduzindo água aos rios Salgado e Jaguaribe, no Ceará; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas- Açu, na Paraíba e Rio Grande do Norte. Projetado para uma capacidade máxima de 99 m³/s, o Eixo Norte operará com uma vazão contínua de 16,4 m³/s, destinados ao consumo humano.

O Eixo Leste, que terá sua captação no lago da barragem de Itaparica, no município de Floresta
PE, se desenvolverá por um caminhamento de 220 km até o Rio Paraíba PB, após deixar parte da vazão transferida nas bacias do Pajeú, do Moxotó e da região agreste de Pernambuco. Para o atendimento das demandas da região agreste de Pernambuco, o projeto prevê a construção de um ramal de 70 km que interligará o Eixo Leste à bacia do Rio Ipojuca. Previsto para uma capacidade máxima de 28 m³/s, o Eixo Leste funcionará com uma vazão contínua de 10 m³/s, disponibilizados para consumo humano.

O benefício esperado da transposição será o atendimento das demandas hídricas da população habitante da região, que receberá parte da água do Rio São Francisco. As demandas hídricas referem-se a áreas urbanas dos municípios beneficiados, distritos industriais, perímetros de irrigação e usos difusos ao longo dos canais e rios perenizados por açudes existentes que receberão águas do Rio São Francisco.

Segundo o Relatório de Impacto Ambiental (Rima), divulgado pelo Ministério da Integração Nacional, o projeto visa ao fornecimento de água para vários fins, sendo que a maioria seria dedicada à irrigação: 70% para irrigação, 26% para uso industrial e 4% para população difusa. Prevê-se que o sistema de transposição esteja em plena operação entre 15 e 20 anos do início das obras.

Ainda de acordo com o projeto de transposição, todas as sedes municipais situadas ao longo dos eixos deverão ser atendidas com recursos locais ou com águas transpostas. Como critério, o projeto prevê que todas as sedes situadas a 10 km dos eixos deverão ter, de forma garantida, fornecimento de água para abastecimento da população e atividades econômicas urbanas. Além dessas cidades, deverão ter o mesmo tratamento as cidades com mais de 50.000 habitantes situadas até 50 km dos eixos de transposição.

Com relação à irrigação, a área total irrigada nas bacias receptoras das águas do São Francisco em 2005 foi de 73.577 ha. A previsão do MI é de que, nessa mesma região, após a transposição atinja-se a área de 265.270 ha irrigados no ano de 2025. Se esse valor vai ser atingido como estabelece o MI, é difícil de saber.

É bastante provável, contudo, que apenas com a realização da obra de transposição esse valor de 265.270 ha irrigados não seja atingido. Se a obra de transposição for concluída de acordo com o projeto, ela fornecerá a água necessária para a irrigação. Entretanto, outros investimentos em equipamentos de irrigação são exigidos para que essa estimativa se concretize.

De qualquer modo, o desenvolvimento da irrigação nas bacias receptoras das águas do São Francisco constitui realmente um dos grandes benefícios potenciais do projeto de transposição. Além das lavouras irrigadas espalhadas por essa região, existem dezenas de projetos públicos de irrigação na região que poderão ser dinamizados.

Ainda é difícil estimar quais serão os impactos da transposição sobre as atividades econômicas desenvolvidas na região beneficiada e sobre a vida da população em geral. De qualquer modo, é possível enumerar alguns impactos positivos e negativos em potencial.

Convém frisar que esses impactos são potenciais, além do fato de apenas ser possível avaliar os impactos reais da transposição após a conclusão da obra, poucos estudos foram realizados sobre esse projeto e seus efeitos futuros sobre as bacias doadoras e receptoras das águas do São Francisco. No relatório de impacto ambiental do projeto, são enumerados 44 impactos da obra.

Entre os impactos positivos potenciais, além dos já mencionados sobre a irrigação e abastecimento das cidades, vários outros podem ser elencados como, por exemplo, o suprimento de água para os animais criados no semiárido (cabras, bois...).

Considerando que muitas vezes o maior patrimônio das famílias de pequenos agricultores do semiárido são os animais possuídos, esse suprimento de água a partir da vazão transposta do São Francisco pode fazer a diferença nas secas mais severas, quando muitos animais morrem de sede ou são vendidos (liquidação de patrimônio).

Um outro benefício para a população dispersa no interior da região do semiárido, será possivelmente a melhoria no abastecimento rural com água de boa qualidade. O projeto prevê a construção de chafarizes públicos em 400 localidades urbanas do sertão inseridas na região do projeto que não possuem sistema de abastecimento adequado.

Se esses chafarizes forem efetivamente construídos, será, de qualquer modo, inegavelmente um benefício, entretanto para o abastecimento de água para uso humano dessa população dispersa, alguns especialistas afirmam que existem meios mais eficazes e baratos para se atingir esse fim, como, por exemplo, a construção de cisternas nas propriedades rurais.

Outro impacto específico ocorrerá na fase de execução da obra, quando se estima que poderão ser gerados até cinco mil empregos. Esse impacto, entretanto, só será sentido nessa fase, após o término das obras provavelmente o número de empregos gerados na manutenção e operação do projeto será reduzido.

Resultado da geração de emprego na fase de execução da obra, será o aumento da renda e do comércio nas cidades que abrigarão os canteiros de obra. A longo prazo, entretanto, a elevação do emprego e renda virão da agricultura irrigada e da indústria que serão consequência da transposição.

Potenciais impactos positivos também ocorrerão em relação à saúde pública. Estima-se que ocorra uma redução de doenças e óbitos gerados pelo consumo de água contaminada ou pela falta de água. Estima-se que baixará em cerca de 14.000 o número de internações provocadas por doenças de associação hídrica no ano de 2025 de uma previsão de 53 mil na ausência do projeto.

Por outro lado, a transposição também poderá gerar determinados impactos negativos, alguns sobre o meio ambiente no ecossistema das bacias doadoras e receptoras.

A transposição poderá, por exemplo, provocar uma modificação nos ecossistemas dos rios da região receptora, alterando a população de plantas e animais aquáticos. Novas espécies, que habitam as águas do São Francisco, serão introduzidas nos rios receptores da água do São Francisco.

A criação de ambientes aquáticos distintos dos existentes, a alteração dos volumes de água nos rios receptores promoverá uma seleção das espécies existentes nesses rios. Essa seleção entre as espécies exóticas e nativas das regiões receptoras pode impactar na redução de espécies nativas. Essa seleção provavelmente resultará em uma diminuição da biodiversidade aquática nos rios das bacias receptoras.

Outro impacto negativo e alvo de críticas por parte dos que se opõem ao projeto está relacionado ao fato do desvio de parte da vazão do Rio São Francisco, após a represa de Sobradinho, pelos dois eixos da transposição prejudicar a geração de energia elétrica nas usinas localizadas no São Francisco após a represa de Sobradinho. No relatório de impacto ambiental do projeto de transposição, é afirmado que a redução será de 2,4% da energia gerada pelo sistema da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF).

Além da redução da geração de energia elétrica, outro potencial impacto relaciona-se ao conflito de uso da água do São Francisco entre o projeto de transposição e os usos já existentes em toda a bacia do Rio São Francisco.

No Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do São Francisco consta que, de um total alocável de 360 m3/s, 335 m3/s já se encontram outorgados. O governo argumenta que serão desviadas 1,4% das águas vertidas pela barragem de Sobradinho. Esse valor equivale a mais de 100% dos 25 m3/s que sobram para os múltiplos usos. Vale ressaltar, que a vazão do projeto da transposição é de 127 m3/s, e não de 26 m3/s, conforme faz menção o governo federal, pois essa última existirá apenas em uma modalidade de operação do sistema.

Diante de tudo o que foi exposto neste breve artigo, evidenciam-se diversos pontos a favor e contra o projeto de transposição do Rio São Francisco. Para além das motivações ideológicas dos que defendem e dos que criticam o projeto, praticamente todos concordam que algo deve ser feito para se tentar, gradativamente, acabar com a tragédia humana que aflige com frequência indesejada a população do semiárido.

As obras se iniciaram há mais de um ano e é provável que num futuro próximo estejam concluídas. Necessário no momento é aumentar o conhecimento existente sobre os impactos que sobrevirão do projeto e exigir do poder público ações e programas que potencializem os efeitos da água recebida na região beneficiada em termos de geração de emprego, renda e, em sentido mais amplo, crescente qualidade de vida para a sofrida população do semiárido.

Exemplos de políticas públicas que poderão potencializar os efeitos da água do São Francisco na região receptora podem ser citadas: investimentos nos projetos de irrigação, linhas de financiamento para a agropecuária (incluindo irrigação) acessíveis aos pequenos agricultores do semiárido, programas de capacitação profissional, programas de otimização do uso da água (na agricultura irrigada, na indústria, nos usos urbanos).

Além desses programas, é essencial melhorar a qualidade da educação pública nessa região. No semiárido em geral, o ensino não é nem de qualidade, nem universal. Atender uma maior parcela da população dessa região, principalmente a que mora no meio rural longe dos centros urbanos, e investir na qualidade do ensino é uma das condições sine qua non, juntamente com aspectos como a disponibilidade hídrica, para se promover o desenvolvimento socioeconômico no semiárido.

Referências bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Nota Técnica n.º 390/2005/SOC. Brasília, 2005. 59p.

GOMES, G. M. Velhas Secas em Novos Sertões. IPEA. Brasília, 2001. 326p.

NASCIMENTO, D. A. Os números contraditórios do projeto de transposição do Rio São Francisco. Acessado no dia 3/03/2009 em: http://www.ecodebate.com.br/2007/05/16/os-numeros-contraditorios-do-projeto-detransposicao-do-rio-sao-francisco-por-dilermando-alves-do-nascimento-geologo.

MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Informações sobre o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional. Acessado no dia 15/02/2009 em:

http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/integracao/index.asp.

http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/pdf/090914_BoletimDirur2.pdf


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Remanescente de Cerrado em Campinas será destruído

Opinião
A importância do cerrado

MAYLA YARA PORTO

No dia 11 de setembro celebramos o Dia Nacional do Cerrado, que foi instituído por decreto de 20/8/03, com o objetivo de estimular a reflexão e a mobilização em sua defesa, uma vez que esse bioma, que está entre os mais ricos em diversidade biológica, se encontra ameaçado.

O bioma cerrado foi reconhecido como “hot spot” para a conservação da biodiversidade mundial. É um alerta máximo e muito sério, por isso é urgente aumentar o conhecimento sobre a importância de sua preservação. Precisamos mudar a maneira como vemos o cerrado. Sem saber que sua biomassa subterrânea é maior do que a biomassa aérea e que as raízes das plantas podem atingir profundidades superiores a 10 metros, na busca de água e de elementos minerais nutritivos, não poderemos dar valor àquela vegetação. Os serviços ambientais prestados pelo cerrado são fundamentais para a manutenção do solo, a regulação climática e o fornecimento de água.

Em Campinas, o mais significativo é o histórico Cerrado de Viracopos, que possui uma abundância de indivíduos arbóreos ausentes nos demais fragmentos, sendo um remanescente de elevada importância para a região. Outro fator relevante é que está comprovada a natureza poligenética do solo de cerrado de Viracopos, que são formados em condições ambientais (clima, vegetação e relevo) pretéritas, mas que ainda persistem na paisagem. Laudo do Instituto Agronômico de Campinas confirma que “o fragmento de cerrado adjacente ao Aeroporto de Viracopos é o único da região associado a um tipo de solo e a um conjunto de atributos que os qualificam como importantes registros geológicos, paleontológicos, arqueológicos e paleoclimáticos da evolução ambiental ocorrida no período quaternário. Ou seja, a vegetação existente naquele cerrado testemunha oscilações climáticas e de fatores ambientais de importância não só para o entendimento do ambiente atual, mas também de sua evolução ao longo do tempo geológico, o que pode ser uma chave para o entendimento das oscilações climáticas futuras”.

Acabar com o cerrado significa, ainda, não utilizar o potencial econômico das espécies que servem como alimentos, corantes e taninos, dentre outras possibilidades industriais e comerciais e efetuar o fechamento de uma grande farmácia natural. Pois inúmeras pesquisas científicas estão mostrando, por exemplo, que a vegetação típica de cerrado poderá se tornar uma grande aliada na luta contra o câncer, eis que várias espécies pesquisadas já apresentaram potencial antitumoral. Como continuar as pesquisas sem o cerrado? Qual o preço dessa destruição? Nós não podemos nos dar ao luxo de desprezar essa preciosidade histórica e ambiental. Não há compensação que possa pagar o ambiente a ser suprimido. Não se trata simplesmente de plantar árvores em outros lugares, pois isto não vai recuperar toda a função ecossistêmica deste cerrado que é única e a natureza levou milhares de anos para constituir.

Com a efetivação do plano de expansão de Viracopos, serão destruídos testemunhos de eventos do passado geológico, importantes não só ao desenvolvimento do conhecimento atual, mas também à evolução das gerações futuras. Pela importância do cerrado como bioma e repositório de riquezas ainda não mensuradas, temos a obrigação de preservá-lo. Se destruído, nem a mais avançada tecnologia será capaz de reconstituí-lo.

Se Campinas é reconhecida pela sua vocação científica e tecnológica, pelo nível intelectual de seus habitantes, não pode ser conivente, em pleno século 21, com um crime ambiental desse monte, fruto da ignorância de alguns gestores públicos, que continuam obsoletamente a optar pelas ferramentas de terra arrasada. Temos que ter a ousadia e o comprometimento de promover um sistema urbano equilibrado entre potencialidades e necessidades, pois é nas cidades que a humanidade constrói as suas alternativas de futuro, e, para isso, precisa de condições ambientais adequadas.

Mayla Yara Porto é presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente - Comdema.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Encontro Mineiro de Etnobiologia e Etnoecologia


Maiores informações no endereço http://etnoikosufv.blogspot.com/2009/08/saudacoes-etnoikas.html

Saudações Franciscanas e Sertanejas

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Rio São Francisco sofre impacto ambiental com produção de carvão

O desmatamento para produção de carvão ainda afeta gravemente a região da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, aponta estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O carvão vegetal abastece principalmente a indústria siderúrgica de Belo Horizonte. Apesar da expansão de centros médios verificada de 2000 a 2007, o IBGE destaca a manutenção da carência de saneamento básico na região.

O estudo foi encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente, que pretende concluir até 2010 o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) da bacia. A região - formada por 506 municípios de Minas, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba e Distrito Federal - representa 7,5% do território nacional e abrange 9,6% da população.

São de Minas Gerais os cinco municípios de maior produção de carvão: Buritizeiro (34.686 toneladas em 2007), João Pinheiro (31.900 t), Pompéu (18.421 t), Felixlândia (17.826 t) e Corinto (16.201 t). Em toda a região, foram extraídas 349 mil toneladas no período, 13,8% da produção nacional. Os dados de extração vegetal são referentes a madeira nativa, portanto não incluem os de silvicultura (florestas plantadas). Neste caso, a produção na bacia atingiu 1.725.740 de toneladas em 2007 (45% do total no País). De novo, municípios mineiros aparecem como os maiores produtores: Lassance (336.868 toneladas), Buritizeiro (261.868 t), Curvelo (189.570 t), Três Marias (125.873 t) e João Pinheiro (125.441 t). O levantamento inclui apenas extrações autorizadas.

Além de Minas, os pesquisadores destacam as regiões de Xique-Xique (BA) e da Chapada do Araripe, na divisa entre Ceará, Piauí e Pernambuco. "O problema aqui é a lenha usada na produção de gesso. Estão acabando com a caatinga", diz o engenheiro florestal Iêdo Bezerra Sá, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Semiárido, em Petrolina (PE), que colaborou com o estudo do IBGE. O responsável pelo ZEE da região, Luis Mauro Ferreira, da Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério, reconhece que o uso da lenha "é amplo".

"O problema não ocorre só no norte de Minas, para consumo em siderúrgicas e olarias. No resto da bacia, é a única fonte de energia", diz. "O problema é amplo. Temos feito um trabalho de recuperação de áreas degradadas e de mudança da matriz energética. O mais difícil é fazer chegar a informação para a população local". O estudo aponta que apenas 7 dos 506 municípios têm alguma representação do Ibama.

Sobre a questão do saneamento, Ferreira diz que foi traçado "horizonte de 20 anos" para que toda a bacia seja alcançada no Programa de Revitalização. "A área é muito grande. Estamos caminhando para a solução a até 15 quilômetros da calha principal, e o objetivo é resolver o problema de esgotamento sanitário, principal contribuinte da poluição". A situação afeta tanto municípios mais desenvolvidos como aqueles estagnados economicamente - Brasília, Belo Horizonte, Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) são exceções.

O IBGE destaca ainda o avanço da fruticultura (Juazeiro foi o maior produtor de manga do País, com 58% de participação) e da produção de grãos e de algodão. "O Brasil tem grande espaço para ocupar no mercado internacional e o semiárido tem muito a contribuir. É possível compatibilizar esse aproveitamento econômico para diminuir bolsões de miséria que sobrevivem", avalia a geógrafa Adma Figueiredo, que coordenou o trabalho do IBGE.

Sobre o eventual impacto da transposição do São Francisco, ela declara: "Pode contribuir tanto para diminuir como para aumentar as desigualdades. Vai depender do rumo que se dará." Na região, 78% da água é usada para irrigação. Adma diz que a articulação da sociedade está crescendo. "Chama a atenção o fortalecimento da sociedade civil em busca de uma virada no interior do Nordeste, que era a terra do coronelismo, dos potentados rurais".(AE)

fonte:cruzeiro online


quinta-feira, 23 de julho de 2009

Estudo revela abandono ambiental do Rio São Francisco

http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2009/07/22/
estudo-revela-abandono-ambiental-do-rio-sao-francisco-207231.asp

Assoreamento, desmatamento, erosão e poluição são alguns dos problemas conhecidos que afligem o Rio São Francisco, com seus 2.800 quilômetros de extensão. E com todos os problemas ambientais do "Velho Chico", o Ibama mantém alguma representação em apenas sete dos 506 municípios que existem ao longo do rio, segundo estudo divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE.

Os problemas ambientais no rio têm diferentes origens: desmatamentos e queimadas, uso inadequado do solo, exploração de minérios sem qualquer controle, instalação de projetos agrícolas e industriais sem adequada infraestrutura e o incremento das populações de seu entorno.

Pouco também é feito na esfera municipal. Dos 506 municípios, 226 (ou 45% do total) possuíam Conselhos de Meio Ambiente em 2002. Desses, apenas 188 (ou 37%) eram considerados ativos, segundo o IBGE.

O estudo mostra que a pesca extrativa no rio começa a escassear. É preocupante em uma região de grandes desigualdades e que parte da população sobrevive da atividade. Entre os motivos estão a construção de hidrelétricas e de canais de irrigação para a agricultura, o que reduziu a vazão do rio e impediu a inundação de lagoas marginais, onde ocorre a reprodução de peixes.

O trabalho contesta ainda a sustentabilidade da agricultura na bacia do São Francisco, onda o uso de calcário, adubos químicos, mecanização, o controle de pragas e doenças, além das práticas de conservação do solo, estão na raiz do problema.

Matéria publicada no mês passado pelo jornal "Valor Econômico" mostrou que, diferentemente das obras de transposição, o programa de revitalização do rio São Francisco atolou. Dos R$ 442,7 milhões previstos no Orçamento federal deste ano para projetos de recuperação ambiental das bacias hidrográficas do São Francisco e do Parnaíba, apenas R$ 71 milhões foram empenhados até maio.

SEMINARIO DA CONSTRUÇAO DO PROJETO EDUCACIONAL DA REDE SOLIDARIA DA PESCA

O Seminário de Construção do Projeto Educacional da Rede Solidária da Pesca acontecerá na ASSUNÇÃO - ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL E DE AÇÃO SOCIAL - CENAM – Centro de Acolhida Missionária, R. Almirante Alexandrino, 2023 – Santa Teresa - Tels.: (0xx21)2224-9963 - (0xx21)2252-5931, Rio de Janeiro.
Para fazer o download da programação vá a página da Rede Solidaria da Pesca: www.redesolidariadapesca.blogspot.com



Reportagem especial sobre a Hidrelétrica do Rio Madeira no Jornal Brasil de Fato

O grito dos povos e das águas

Especial Rio Madeira

Especial Rio Madeira

especial rio madeira

Cristiano Navarro

de Porto Velho (RO)


A reportagem do Brasil de Fato percorreu 334 km junto à bacia do rio Madeira durante 11 dias e apresenta em reportagem especial a angústia e a luta deste rio frente ao poder econômico e político na construção de duas megahidrelétricas. Ribeirinhos, agricultores, comunidades indígenas, ao todo o projeto trará inicialmente, com a construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, impactos para 5 mil pessoas que vivem deste rio. Repetindo a história de um século atrás, como na implantação da Linha de ferro Madeira - Mamoré (conhecida como a Ferrovia do Diabo), o governo entrega as transnacionais a exploração de recursos naturais e humanos da Amazônia






Um século depois, Brasil repete os mesmos erros para a Amazônia

Um povo além das margens do rio



Presidente do Ibama é processado por improbidade administrativa



“Está para acontecer uma catástrofe



O ataque a vida e cultura dos povos indígenas



Governo troca floresta grilada por floresta submersa



Encontro da CEBs: “Do Ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia”